<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, fevereiro 24, 2003

Sonho inquieto



Numa breve manhã da minha vida
Julguei sentir a tua luz penetrar
Pela penumbra da alma escurecida
Que eu nunca consegui iluminar.


Surgiste numa aragem destemida
Que soprou um enigma desfeito;
E quando olhei a tua mão estendida
O meu pecado tornou-se perfeito.


Lamentei que não estivesses perdida
No sonho inquieto daquele meu dia,
Mas louvei essa ilusão adormecida
Que despertou a tua serena harmonia.


Sempre que tu descobres a vida
Eu vejo a minha cegueira invisível,
Mas entendo a poesia indefinida
Que tu sentiste nesse dia insensível.

quinta-feira, fevereiro 20, 2003

A fuga


Acorda dos teus sonhos inocentes
E enxuga as tuas lágrimas secas;
Hoje fugimos deste mundo podre,
Finalmente fugimos do pesadelo.


Faz depressa as malas e veste-te,
Antes que o teu pai nos ouça,
Ou que as sombras debaixo da cama
Se transformem em monstros frios.


Eu consigo fazer isto sozinho,
Por isso não tenhas medo da lua,
Porque é a sua luz que nos ajuda,
Que nos guia neste caminho cru.


Agora podes-te rir de tudo,
Num riso solto e sem som:
As tristezas pedem clemência
E as regras estão prisioneiras.


Agora somos só um ser:
Somos a harmonia da tua alma,
Somos a calma do meu espírito,
Numa paz eternamente só.


sexta-feira, fevereiro 14, 2003

Um dia como outros


Hoje acordei numa pobre poesia,
Cheia de criaturas frias e cruas.
Levantei-me para ver o dia,
Sem sequer saber por onde ia
A sombra que persigo nas ruas.


Rio-me da confusão de vidas
Que habitam na minha mente,
E troçam das palavras tremidas
Ao conhecerem as obras perdidas
Que ainda busco em toda a gente.


Estou mais velho do que amanhã,
Apesar de ainda não ter nascido.
Não sei bem se Eva comeu a maça,
Porque sei que a minha paz não é vã,
E ontem até já posso ter morrido.


Nunca soube escrever sentimentos,
Nem ler um livro em Inglês.
“Feelings” quer dizer inventos;
“Hate” quer dizer pensamentos;
“Love” faz-me rir outra vez.

sexta-feira, fevereiro 07, 2003

Vozes silenciosas

Ontem a noite escarrou mais um dia,
Mas eu enterrei-o antes que nascesse.
Hoje a manhã irrompeu morta e livre,
E até o tempo parou só para mim.

Hoje não sei, não sou, não sinto.
Quero sonhar que consigo adormecer,
Sereno e sossegado,
E depois despertar num novo olhar.
Estou cansado de fingir que não vejo
As vozes silenciosas que nunca ouvi
Mas que me acompanham desde sempre.


Não vou, não espero, não fico.
Quero saber porque caminho assim,
Raivoso e revoltado,
E porque me persegue este corpo sujo.
Estou cansado de subir sem cessar
Pelas bermas do mistério da dúvida,
E descobrir que tenho andado a descer.


Não nasço, não morro, não ressuscito.
Quero ter na palma da mão a Verdade,
Imóvel e imaculada,
E deitá-la fora quando me aborrecer.
Estou até farto de suportar o cansaço
De trazer sempre comigo este caixão
Que contém o milagre da existência.

Talvez amanhã Cristo saia da cruz,
Mas amanhã já será tarde demais,
Porque a partir da manhã de hoje
Nunca mais ninguém negará nada.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?