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sexta-feira, abril 25, 2003

Angústia paranóica


Estou abandonado num canto escuro,
Frio, coberto por uma agonia imóvel.
As batidas inquietas do meu coração
Não deixam ouvir o meu sentimento.

Escutem este meu pedido de socorro,
Deixem-me sair daqui deste sítio;
Não suporto falar, ouvir, respirar,
Sentir que não consigo ver o amanhã.

Os meus lentos passos apavorados
Andam em aflitos círculos estáticos,
E a minha mente doente e desesperada
Está demasiado esgotada para se cansar.

Se me querem obrigar a continuar aqui,
Apenas peço que extingam a minha alma
Muda de tanto gritar pela ajuda inerte,
Tão imoral quanto este buraco sujo.

O meu pensamento está desarticulado
E o meu corpo permanece dormente;
Não sinto os braços nem as pernas,
Mas o meu coração não pára de bater.

Compreendam que não posso lutar mais,
Porque não quero continuar a viver
Na dor inquietante da minha angústia,
Sem sequer conseguir saber quem sou.

domingo, abril 20, 2003

Pensamentos de ninguém



Ninguém alimenta os pobres de espírito
Que vendem a alma em troca de ganância.
Ninguém compra a fome de todo o mundo.


E não me deixes aqui sozinho,
Que não sei como viver sem ti.


Ninguém pára os massacres das pessoas
Que imploram ajuda aos seus predadores.
Ninguém mata as guerras deste planeta.


E não me deixes aqui sozinho,
Que não sei como viver sem ti.


Ninguém vê os cegos, nem ouve os surdos,
Nem sente a dor das doenças incuráveis.
Ninguém cura todos os doentes do mundo.


E não me deixes aqui sozinho,
Que não sei como viver sem ti.

quinta-feira, abril 17, 2003

Não existes



Hoje descobri que tu não existes,
És apenas uma fantasia disfarçada,
És escuridão vestida de madrugada.
Por isso nunca mais adormeças aqui,
Não digas que tens saudades minhas,
Nem regresses para depois partires.



Pensas que este poema é sobre ti,
Só porque trazes um sonho antigo
E levas toda a minha vida contigo.
Mas lembra-te que nunca exististe,
Por isso não mostres o teu sorriso,
Nem te aproximes assim de mim.



Só gostava de te conseguir ver
Perdida no meu olhar cansado,
Estendida sobre o meu corpo deitado.
Eu bem sei que tu não existes,
Mas não me deixes aqui perdido,
Que eu não sei existir sem ti.

quinta-feira, abril 10, 2003

O nosso caminho

Agora só nós é que caminhamos
Com esta certeza de nunca duvidar
Que não sabemos para onde vamos,
Nem sabemos se iremos voltar.

Agora só nós é que esculpimos
A estrada que esperamos encontrar
Entre o sonho que nunca reflectimos
E o pesadelo que tememos espelhar.

Agora só nós é que sepultamos
O atalho por onde vamos a cantar,
Pois percebemos que procuramos
Algo que nunca poderemos encontrar.

Subitamente já não existimos
No espaço extinto deste lugar,
Mas existe a poesia, que sentimos;
E a vida, que vivemos a voar.

Existe a bravura, que desbravamos;
O medo, que temos o terror de recear;
A alegria, em que agora duvidamos;
E a tristeza, que nos olha a chorar.

segunda-feira, abril 07, 2003

Escuridão


Olá, escuridão minha amiga,
Venho visitar-te novamente
Porque és tu quem me abriga
Quando eu me estou ausente.


A tua sombra já é tão antiga
Que até nem sonho claramente
Neste pesadelo que me obriga
A estar acordado e descontente.



Desculpa chamar-te assim
Mas se a tua luz é escura,
Isso não me importa a mim,
Que venho da minha sepultura.



Agora estou distante de onde vim
E vejo-te inocente, serena e pura,
Caminhando comigo até ao fim,
Eternamente à minha procura.

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