<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, junho 25, 2003

Susana


Naquele dia a manhã adormeceu,
Mas o sol passou pela persiana
Da janela da minha mente pura,
Iluminando a fantasia inocente
Do primeiro olhar que viu Susana.


Susana revelou-me um segredo
Sobre a luz do ciclo da Vida,
Que um dia eu hei-de escutar
No silêncio da minha sepultura
Coberta com uma alma perdida.


Susana ensinou-me a aprender
A viver a voar no seu mundo
Colorido com um sonho selvagem,
Mas não me falou do arco-íris
Negro nascido num sono profundo.


Susana mostrou-me um caminho
Sem sentido, destino ou poesia,
Que me arrastou até aos confins
Mais escuros deste meu espectro,
Que não domino desde esse dia.


Só lhe pedi que não me deixasse
Perdido no seu silêncio infinito,
Mas até eu me esqueci da voz
Que ainda chama por Susana
Na poesia repetida do meu grito.


Agora levanto-me todas as manhãs
E arrasto um corpo que não me serve
Por um caminho que me atropela,
Mas a minha alma continua imóvel,
Esperando que um outro dia me leve.


sexta-feira, junho 13, 2003

Auto-retrato inacabado



Vejo um louco esquizofrénico
Correndo para lado nenhum,
Enquanto procura a sua alma
Disforme, frágil e amaldiçoada.



Ouço os seus passos libertados
Do perseguidor barulho da cidade,
E entendo porque é que foge
Aflito, dorido e horrorizado.



Reparo que corro a seu lado,
Sem saber para onde caminha
O vento que leva a minha mente
Decadente, infeliz e assustada.



Todos na rua olham para nós
Como se fossemos dois loucos,
Mas ninguém vê o nosso olhar
Impaciente, vencido e gelado.

quarta-feira, junho 11, 2003

Olhar oculto



Tu és aquela perfeita poesia
Que eu nunca conseguirei criar,
E que só a furiosa harmonia
Da tua alma consegue espelhar.


Ambos nascemos na noite fria
Em que o sol parou de brilhar,
E em que a lua fez a fantasia
Que eu nunca soube sepultar.


Juntos existimos na alma unida
Com que exploramos a rua deserta
Em busca da liberdade indefinida
Que guardas numa prisão incerta.


Esta é a altura da despedida,
Porque o ciclo da vida desperta
Sempre que tu estás adormecida
Sobre a minha sepultura aberta.


A noite desfalece serenamente,
Mas mesmo assim eu acredito
Que tu vais viver eternamente
No olhar oculto deste meu grito.


Agora a manhã nasce impaciente
E o sol repete o gesto infinito
Que eu persegui desde sempre,
E que mora na alma onde habito.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?